PREFÁCIO
O meu objetivo ao escrever este livro foi contribuir, de alguma forma, para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas que sofrem com a ansiedade e com suas consequências sobre o corpo e a mente.
Por outro lado, o público-alvo do meu livro não é constituído apenas por pessoas idosas ansiosas. Gostaria muito de que ele fosse lido por essas pessoas, mas, também:
- Pelos idosos que convivem com pessoas ansiosas e sofrem por isso;
- Pelas pessoas de qualquer idade que se preocupam com as pessoas idosas ansiosas, como familiares, amigos e vizinhos;
- Por pessoas de qualquer idade que conhecem pessoas idosas com ansiedade e gostariam de fazer mais por essas pessoas;
- Por pessoas que simplesmente querem ler uma história leve, sensível e bem humorada.
A forma de abordar o tema – uma história fictícia – foi a minha opção para que esse livro não fosse visto como um livro didático ou um manual de cuidados e cura para tratar idosos ansiosos. Além disso, este não é um livro de autoajuda, pois em sua essência, quer ser uma proposta de ajuda mútua, ou seja, de pessoas ajudando pessoas.
II
Outra razão para a escolha da ficção é que, assim, as coisas ficam mais suaves e podem falar mais alto à nossa sensibilidade e humanidade do que ao nosso raciocínio lógico e rígido.
O fato de eu não ser um profissional da saúde mental – embora seja profissional de saúde – não interfere na credibilidade do texto, pois me baseei em livros escritos por profissionais de saúde mental, mas visando a atingir o público em geral, ou seja de fácil entendimento. Além disso, minha experiência de doze anos como professor universitário me credenciam a tratar informações de origem científica com rigor que a ciência exige.
A maior legitimidade para escrever sobre esse tema, entretanto, é a experiência que tenho em ser idoso, afinal são nove anos de vivência nessa condição e de muita reflexão sobre o processo de envelhecimento.
Entre essas reflexões, tem ocupado lugar de destaque o agravamento das consequências da ansiedade sobre o corpo e a mente conforme a idade avança.
Os livros sobre os quais me debrucei algum tempo falam do papel do próprio indivíduo na melhoria de seu convívio com a ansiedade e falam com inegável propriedade e pertinência.
Existe, porém, um vácuo a ser preenchido. Entendo que, no caso das pessoas idosas, uma necessidade a mais se impõe de forma bem clara. Se, quando se é jovem, pode-se travar a própria luta para viver melhor com a ansiedade, ao nos tornarmos idosos, nossas vulnerabilidades requerem o olhar e a atenção do outro.
Entendo, então, que um encontro – ou reencontro – precisa ser estabelecido.
Uma das observações mais significativas desse tempo em que ultrapassei a barreira dos sessenta anos e, mais especificamente depois da minha aposentadoria total, é sobre a ocorrência de gradativo isolamento social, que não me parece ser exclusivamente o meu caso.
Afinal não temos mais os colegas de trabalho; vamos com menor frequência as reuniões sociais; temos menor disposição para visitar amigos, muitos deles também idosos. É muito comum que vivamos com uma pessoa que amamos e que muito nos ama, mas que tem uma vida própria para viver, com as próprias preocupações, as próprias incertezas, os próprios problemas.
III
Por isso, as pessoas que convivem com idosos precisam descobrir – ou resgatar em si mesmas – a capacidade de se colocar no lugar do outro, olhar para eles com generosidade e curiosidade sobre o que sentem e sobre o que lhes traz angústia.
A história que criei para esse livro trata disso. Ela expõe os personagens a situações de convívio e de conflitos; evidencia olhares e atos de apoio; aponta caminhos que melhoram a qualidade de vida de outros personagens.
Se o leitor for daqueles que se deixam envolver pela história, certamente poderá adotar para si as características de personagens que ajudam ou dos que são ajudados.
De qualquer forma, imprescindível para entender este livro é apenas a convicção de que amizade vale a pena e empatia nos fazer pessoas melhores, seja qual for nossa idade.
Os fundamentos do livro
As obras em que me apoiei foram “Desconstruindo a ansiedade”
de Judson Brewer; “Aonde quer que vá, é você que estará lá”, de Jon Kabat-Zinn
e “Inteligência Emocional”, de Daniel Goleman. Este último me ajudou a
compreender melhor o funcionamento da parte mais subjetiva do cérebro.
“Inteligência emocional: a teoria revolucionária
que redefine o que é ser inteligente”, foi usado neste trabalho
para melhor estabelecer ligações entre a nossa rotina e o que acontece com
nosso cérebro em relação à forma como lidamos com a vida.
IV
As explicações do autor, embora técnicas, são bastante passíveis de serem entendidas, mesmo por quem não é especialista no assunto.
O número de vezes em que a palavra ansiedade aparece no livro de Goleman – 176 – evidencia a ligação entre as emoções e a forma como encaramos nossas incertezas e medos, dois precursores importantes para que a ansiedade se instale.
Em ‘Desconstruindo a ansiedade: um guia para superar os maus hábitos que geram agitação, preocupação e medo’, Judson Brewer esclarece o que acontece com o cérebro quando ele desencadeia a ansiedade e, durante o texto, percorre exaustivamente o ciclo que se forma antes e durante os episódios mais marcantes dela.
No livro, Brewer apresenta estratégias para modificar a forma de abordar nossos medos e incertezas quanto ao futuro e como a aplicação de um olhar que valoriza o momento presente pode contribuir para que tenhamos significativa melhora em nossa qualidade de vida.
Quanto a “Aonde quer que você vá, é você que estará lá: um guia prático para cultivar a atenção plena”, Jon Kabat-Zinn detalha a Atenção Plena e desmistifica o pensamento de que, como estratégia com origem oriental, ela estaria ligada a religiões e tradições engessadoras.
Pressupostos por trás da história
V
Outra parte é racional, pensa, pondera, calcula, separa o medo justificado pelo perigo real do medo criado ou imaginado, como, por exemplo, aquele que leva ao pânico e à fobia de viajar de avião.
A porção racional do cérebro domina e controla a parte emocional na maior parte das vezes; em outras situações as emoções é que predominam.
A ansiedade nasce quando nosso cérebro emocional predomina e aquilo que sentimos nos aflige, mesmo que, no fundo, nada podemos fazer para resolver. O cérebro racional sabe que falta lógica aos sentimentos que nos dominam, mas não tem forças para impedir a outra parte de “viajar na maionese”.
Daí a importância da curiosidade em relação ao que se está sentindo, para deixar evidente a si próprio que não se pode controlar os perigos que se imagina correr no futuro e que ainda não é hora de nos preocupar com ele.
Ao colocar o cérebro racional para funcionar, precisamos enxergar os pensamentos com generosidade. Afinal, eles estão lá porque é natural planejar ações e preparar o corpo para se proteger de ameaças, só não podem passar da medida.
É preciso enxergar essas preocupações sem fazer juízo de valor e sem menosprezar a sua importância, apenas percebendo que esses pensamentos podem até ser justificáveis, mas não agora e não dessa forma intensa com que a dor chega ao corpo.
Assim fazendo, podemos analisar como essa preocupação surge, como provoca sofrimento e como vai embora por algum tempo e volta logo depois ou amanhã.
VI
Isso nos leva a perceber que essas preocupações têm um padrão de comportamento, começam sempre que uma condição é estabelecida (um gatilho), as pessoas se comportam de algum jeito para aliviar a dor – bebendo, menosprezando a importância da preocupação ou propositalmente fugindo para pensamentos mais agradáveis, algumas vezes até irreais (um comportamento). Então, a crise passa por pouco tempo e nos alivia momentaneamente (uma resposta).
Para quebrar esse ciclo temos que listar (mentalmente ou literalmente) todos os gatilhos que disparam nossas preocupações e os comportamentos que adotamos. Isso feito, o raciocínio vai fortalecer nossa capacidade de entender que precisamos de outros comportamentos para nos defender do medo e da preocupação e/ou a incerteza nos causam.
As situações de interação, de conflito e de apoio mútuo criadas na história fictícia deste livro, apontam caminhos possíveis para colocar em prática essas ações, mas fazem isso de forma sutil para não prejudicar o ritmo da história.
Eu agradeço por ter lido até aqui. A partir de agora, vamos invadir a vida dos primeiros personagens de uma história corriqueira e muito parecida com o dia a dia das pessoas idosas e suas famílias.